O que é prisão de ventre?
A prisão de ventre, também conhecida como constipação intestinal ou intestino preso, caracteriza-se pela diminuição da frequência de evacuações durante a semana, o que resulta em desconforto abdominal significativo. Além disso, essa condição afeta aproximadamente 20% da população brasileira, sendo mais comum em mulheres e idosos.
Quando o intestino funciona mais lentamente do que o normal, as fezes permanecem por mais tempo no cólon, o que faz com que a água seja excessivamente absorvida, tornando-as ressecadas e difíceis de eliminar. Além disso, segundo a Sociedade Brasileira de Coloproctologia, é considerada prisão de ventre quando a pessoa evacua menos de três vezes por semana, apresentando também fezes endurecidas e dificuldade para eliminá-las.
O impacto da prisão de ventre vai além do desconforto físico; além disso, pode afetar significativamente a qualidade de vida, o humor e o bem-estar geral da pessoa afetada. Por isso, entender suas causas e sintomas é o primeiro passo para um tratamento eficaz.
Principais sintomas da prisão de ventre
Identificar os sintomas da prisão de ventre é fundamental para buscar o tratamento adequado. Assim, os sinais mais comuns incluem:
- Evacuações menos frequentes: menos de três vezes por semana
- Fezes endurecidas e ressecadas: difíceis de eliminar
- Esforço excessivo durante a evacuação: necessidade de fazer força para conseguir evacuar
- Sensação de evacuação incompleta: impressão de que ainda há fezes a serem eliminadas
- Desconforto e dor abdominal: frequentemente aliviados após a evacuação
- Distensão e inchaço abdominal: barriga visivelmente inchada e dura
- Flatulência excessiva: aumento na produção de gases intestinais
- Alterações de humor: por exemplo, irritabilidade e mau humor devido ao desconforto constante.
- Possível presença de sangue nas fezes: devido ao esforço para evacuar, podendo indicar hemorroidas
A intensidade desses sintomas varia de pessoa para pessoa, podendo ser leves e ocasionais ou, por outro lado, crônicos e debilitantes. Em casos mais graves, a prisão de ventre pode, inclusive, levar a complicações como hemorroidas, fissuras anais e até impactação fecal, quando as fezes ficam tão endurecidas que não conseguem ser eliminadas naturalmente.
Causas comuns da constipação intestinal

A prisão de ventre pode ser causada por diversos fatores, que vão desde hábitos diários até condições médicas específicas. Por isso, entender essas causas é essencial para um tratamento eficaz. Assim, as principais causas incluem:
Fatores relacionados ao estilo de vida:
- Alimentação pobre em fibras: nesse caso, dietas com poucos vegetais, frutas e grãos integrais acabam dificultando o trânsito intestinal.
- Baixa ingestão de líquidos: a desidratação contribui para o ressecamento das fezes
- Sedentarismo: a falta de atividade física reduz os movimentos peristálticos do intestino
- Ignorar a vontade de evacuar: no entanto, adiar repetidamente o momento da evacuação pode enfraquecer os reflexos naturais.
Fatores medicamentosos:
- Uso de certos medicamentos: antiácidos com cálcio ou alumínio, antidepressivos, anti-histamínicos, diuréticos, opioides e suplementos de ferro frequentemente causam constipação
- Uso excessivo de laxantes: pode criar dependência e piorar o problema a longo prazo
Condições médicas:
- Distúrbios hormonais: como hipotireoidismo
- Condições neurológicas: doença de Parkinson, esclerose múltipla, lesões na medula espinhal
- Distúrbios metabólicos: diabetes, hipercalcemia
- Problemas estruturais no intestino: estenose, tumores, diverticulose
- Síndrome do intestino irritável: pode alternar entre diarreia e constipação
- Disfunções do assoalho pélvico: afetando a coordenação muscular necessária para evacuar
Fatores psicológicos:
- Estresse e ansiedade: podem afetar significativamente o funcionamento intestinal
- Depressão: frequentemente associada a alterações no ritmo intestinal
- Transtornos alimentares: podem causar desequilíbrios que afetam a motilidade intestinal
Identificar a causa específica da prisão de ventre é, portanto, fundamental para determinar o tratamento mais adequado e, assim, evitar que o problema se torne crônico.
Prisão de ventre em situações específicas
Prisão de ventre na gravidez
A constipação intestinal é extremamente comum durante a gestação, afetando cerca de 40% das mulheres grávidas. Além disso, durante este período, vários fatores contribuem para o intestino preso:
- Alterações hormonais: O aumento da progesterona durante a gravidez, por sua vez, relaxa a musculatura intestinal, reduzindo sua motilidade.
- Pressão do útero em crescimento: comprime o intestino, especialmente no terceiro trimestre
- Suplementação pré-natal: especialmente suplementos de ferro e cálcio, conhecidos por causar constipação
- Medicamentos para náuseas e azia: frequentemente prescritos durante a gestação, podem agravar o problema
- Desidratação: comum em gestantes que sofrem com enjoos
Para gestantes com prisão de ventre, é essencial, portanto, adotar medidas seguras, como aumentar a ingestão de fibras e líquidos, praticar exercícios leves aprovados pelo obstetra e manter horários regulares para evacuação. Além disso, é importante evitar a automedicação com laxantes sem orientação médica.
Prisão de ventre em crianças
A constipação infantil afeta aproximadamente 30% das crianças em algum momento, sendo, por isso, mais comum durante o treinamento para o uso do banheiro. Além disso, nas crianças, a prisão de ventre apresenta características particulares:
- Resistência a usar o banheiro: medo, vergonha ou trauma anterior podem fazer a criança “segurar” as fezes
- Evacuação dolorosa: cria um ciclo de medo e retenção que agrava o problema
- Encoprese: vazamento involuntário de fezes na roupa, comum em crianças com constipação crônica
- Alterações comportamentais: irritabilidade, dificuldade de concentração e diminuição do apetite
Os sinais de prisão de ventre em crianças incluem menos de três evacuações por semana, além de fezes grandes e duras, dor ao evacuar, manchas de fezes na roupa íntima e comportamento de retenção, como cruzar as pernas ou se esconder.
O tratamento deve ser orientado pelo pediatra e geralmente inclui ajustes na dieta, estabelecimento de rotinas de banheiro, reforço positivo e, em alguns casos, medicamentos específicos para crianças.
Como é feito o diagnóstico da prisão de ventre
O diagnóstico da prisão de ventre geralmente começa com uma consulta médica detalhada. O gastroenterologista ou clínico geral realizará:
- Avaliação da história clínica: o médico questionará sobre a frequência e consistência das fezes, hábitos alimentares, uso de medicamentos, histórico médico e familiar
- Exame físico completo: incluindo palpação abdominal para verificar distensão, massas ou áreas dolorosas
- Avaliação dos hábitos intestinais: utilizando a Escala de Bristol, que classifica a consistência das fezes em sete tipos diferentes
- Exames complementares: em casos específicos, podem ser solicitados:
- Exames de sangue: para verificar condições como hipotireoidismo
- Colonoscopia: para avaliar a estrutura do intestino grosso
- Manometria anorretal: para avaliar a função muscular do reto e ânus
- Tempo de trânsito colônico: para medir quanto tempo as fezes levam para atravessar o cólon
- Defecografia: para visualizar o processo de evacuação
Segundo os Critérios de Roma IV, utilizados internacionalmente, o diagnóstico de constipação funcional é estabelecido quando o paciente apresenta pelo menos dois dos seguintes sintomas por pelo menos três meses:
- Esforço excessivo em pelo menos 25% das evacuações
- Fezes endurecidas em pelo menos 25% das evacuações
- Sensação de evacuação incompleta em pelo menos 25% das evacuações
- Sensação de obstrução anorretal em pelo menos 25% das evacuações
- Necessidade de manobras manuais para facilitar a evacuação em pelo menos 25% das vezes
- Menos de três evacuações por semana
O diagnóstico correto é fundamental para estabelecer o tratamento adequado e identificar possíveis condições subjacentes que requerem atenção médica específica.
5 estratégias eficazes para tratar a prisão de ventre
1. Alimentação rica em fibras
A alimentação é o pilar fundamental no tratamento da prisão de ventre. As fibras são essenciais para o bom funcionamento intestinal, pois aumentam o volume das fezes e estimulam os movimentos peristálticos do intestino.
Alimentos recomendados para combater a prisão de ventre:
- Frutas com casca: maçã, pera, ameixa (especialmente ameixa seca)
- Vegetais de folhas verdes: couve, espinafre, rúcula, alface
- Leguminosas: feijão, lentilha, grão-de-bico, ervilha
- Cereais integrais: aveia, arroz integral, quinoa, pães e massas integrais
- Sementes: chia, linhaça, girassol (preferencialmente trituradas)
- Alimentos probióticos: iogurte natural, kefir, kombucha
Recomenda-se, portanto, aumentar gradualmente o consumo de fibras para evitar desconforto abdominal e flatulência excessiva. Além disso, a meta ideal é consumir entre 25 a 30 gramas de fibra diariamente.
2. Hidratação adequada
A água é essencial para amolecer as fezes e facilitar sua passagem pelo intestino. A desidratação é uma das causas mais comuns de prisão de ventre, pois o corpo retira água das fezes para manter suas funções vitais.
Dicas para uma hidratação adequada:
- Beba pelo menos 2 litros de água por dia (cerca de 8 copos)
- Leve sempre uma garrafa de água com você
- Aumente a ingestão de líquidos ao consumir mais fibras
- Inclua sopas, chás sem cafeína e sucos naturais na sua dieta
- Limite o consumo de bebidas diuréticas como café e álcool
Uma dica prática é observar a cor da urina: ela deve ser clara ou levemente amarelada, indicando boa hidratação.
3. Atividade física regular
O exercício físico estimula a motilidade intestinal e fortalece os músculos abdominais, facilitando, assim, o processo de evacuação. Por outro lado, pessoas sedentárias têm maior propensão à prisão de ventre.
Atividades recomendadas para melhorar o trânsito intestinal:
- Caminhadas: pelo menos 30 minutos diários
- Natação: exercício completo que estimula o metabolismo
- Corrida: aumenta o fluxo sanguíneo abdominal
- Ciclismo: ativa os músculos abdominais
- Yoga: posições específicas como “torção espinhal” e “vento” beneficiam o intestino
O ideal é praticar atividade física pelo menos de 3 a 5 vezes por semana, por no mínimo 30 minutos. Além disso, até mesmo pequenas mudanças, como usar escadas em vez de elevadores ou caminhar em curtas distâncias, podem fazer diferença.
4. Treinamento intestinal
O treinamento intestinal consiste, basicamente, em estabelecer uma rotina regular para evacuar, ajudando, assim, a “educar” o intestino a funcionar em horários mais previsíveis.
Como realizar o treinamento intestinal:
- Escolha um horário fixo para tentar evacuar diariamente
- Preferencialmente, tente após as refeições (especialmente o café da manhã), quando o reflexo gastrocólico é mais forte
- Reserve de 10 a 15 minutos, sem pressa
- Mantenha uma posição adequada: use um banquinho para elevar os pés, simulando a posição de cócoras
- Não force excessivamente, pois isso pode causar hemorroidas
- Seja consistente e paciente, pois o corpo pode levar semanas para se adaptar
O treinamento intestinal é particularmente eficaz quando combinado com as outras estratégias mencionadas.
5. Tratamentos médicos
Quando as medidas não medicamentosas não são suficientes, o médico pode recomendar tratamentos específicos:
Opções medicamentosas para prisão de ventre:
- Suplementos de fibras: psyllium, metilcelulose, policarbofila de cálcio
- Laxantes osmóticos: polietilenoglicol, lactulose, sorbitol
- Laxantes estimulantes: bisacodil, sene (uso limitado e sob orientação médica)
- Agentes formadores de massa: aumentam o volume e a maciez das fezes
- Lubrificantes intestinais: óleo mineral (uso ocasional)
- Medicamentos pró-cinéticos: aumentam a motilidade intestinal
- Supositórios de glicerina: para alívio imediato em casos específicos
Em casos mais graves ou resistentes ao tratamento convencional, o médico pode, então, considerar:
- Biofeedback: treinamento para melhorar a coordenação muscular durante a evacuação
- Neuromodulação: Trata-se de uma técnica que utiliza estimulação elétrica para, assim, regular a função intestinal de forma mais eficiente.
- Procedimentos cirúrgicos: Em casos extremamente raros, quando há problemas estruturais, pode ser necessário recorrer a intervenções cirúrgicas.
É fundamental ressaltar que qualquer medicamento para prisão de ventre deve ser usado sob orientação médica, pois o uso prolongado ou inadequado pode agravar o problema.
Remédios caseiros para aliviar a prisão de ventre

Além dos tratamentos convencionais, é importante destacar que diversos remédios caseiros também podem auxiliar no alívio da prisão de ventre de forma natural:
- Chá de sene: possui propriedades laxativas naturais (usar com moderação)
- Água morna com limão em jejum: estimula o movimento intestinal
- Suco de ameixa: especialmente eficaz quando consumido em jejum
- Mistura de linhaça, mamão e laranja: combinação rica em fibras e vitamina C
- Chá de erva-doce ou funcho: alivia gases e promove relaxamento intestinal
- Água de kiwi: deixar 3 kiwis picados em 1 litro de água durante a noite e beber no dia seguinte
- Óleo de coco: 1 colher de sopa em jejum pode facilitar a lubrificação intestinal
- Chá de gengibre: estimula a digestão e a motilidade intestinal
É importante lembrar que, mesmo sendo naturais, esses remédios caseiros podem, ainda assim, ter contraindicações ou interagir com medicamentos. Por isso, consulte seu médico antes de adotá-los, especialmente se você tiver condições médicas preexistentes.
Como prevenir a constipação intestinal
A prevenção da prisão de ventre é mais fácil e eficaz do que o tratamento. Adotar hábitos saudáveis diariamente pode manter seu intestino funcionando adequadamente:
Hábitos alimentares preventivos:
- Consuma alimentos ricos em fibras diariamente
- Inclua frutas e vegetais em todas as refeições
- Prefira grãos integrais aos refinados
- Limite alimentos processados e ultraprocessados
- Evite excesso de alimentos formadores de gases em pessoas sensíveis
Rotina de hidratação:
- Mantenha uma garrafa de água sempre por perto
- Estabeleça horários regulares para beber água
- Consuma líquidos antes, durante e após exercícios físicos
- Aumente a ingestão em dias quentes ou quando estiver doente
Estilo de vida ativo:
- Incorpore movimento ao seu dia a dia
- Evite ficar sentado por longos períodos
- Pratique exercícios que você goste para manter a consistência
- Faça atividades que envolvam a região abdominal
Hábitos intestinais saudáveis:
- Nunca ignore a vontade de evacuar
- Reserve tempo suficiente para ir ao banheiro sem pressa
- Mantenha horários regulares para as refeições
- Pratique técnicas de gerenciamento de estresse
A consistência é a chave para prevenir a prisão de ventre. Pequenas mudanças mantidas ao longo do tempo são mais eficazes do que alterações drásticas temporárias.
Quando procurar ajuda médica
Embora a prisão de ventre seja geralmente um problema tratável em casa, existem situações que exigem avaliação médica imediata:
- Constipação que dura mais de 3 semanas, apesar das mudanças na dieta e estilo de vida
- Dor abdominal intensa ou cólicas severas
- Sangramento retal ou presença de sangue nas fezes
- Perda de peso inexplicada
- Alternância entre diarreia e constipação
- Febre associada à constipação
- Mudança repentina e persistente nos hábitos intestinais, especialmente em pessoas acima de 50 anos
- Constipação que se inicia após começar um novo medicamento
- Sintomas que pioram progressivamente
- Histórico familiar de câncer colorretal ou doença inflamatória intestinal
Lembre-se: a prisão de ventre ocasional é comum, mas a constipação crônica ou acompanhada de sintomas alarmantes pode indicar problemas mais sérios que requerem investigação médica.
Perguntas frequentes sobre prisão de ventre
Quanto tempo é normal ficar sem evacuar?
O padrão de evacuação varia de pessoa para pessoa. Enquanto algumas pessoas evacuam diariamente, outras podem ter um ritmo de três vezes por semana sem que isso represente um problema. Considera-se prisão de ventre quando as evacuações são menos frequentes que o padrão normal da pessoa, acompanhadas de desconforto e fezes endurecidas.
A prisão de ventre pode causar mau hálito?
Sim, a constipação prolongada pode, de fato, contribuir para o mau hálito. Isso acontece porque, quando as fezes permanecem no intestino por muito tempo, ocorre maior fermentação e produção de gases, os quais podem ser parcialmente absorvidos e eliminados pela respiração.
Laxantes podem viciar?
O uso frequente de laxantes estimulantes pode levar à dependência, pois o intestino pode “se acostumar” com o estímulo externo e perder sua capacidade natural de contração. Por isso, laxantes devem ser usados apenas temporariamente e sob orientação médica.
A prisão de ventre pode causar ganho de peso?
Embora a prisão de ventre possa causar inchaço e sensação de peso, o ganho na balança devido exclusivamente à constipação é geralmente temporário e relacionado ao acúmulo de fezes e gases. No entanto, os mesmos hábitos que causam constipação (sedentarismo, má alimentação) podem contribuir para o ganho de peso real.
Existe relação entre prisão de ventre e hemorroidas?
Sim, existe uma relação direta. De fato, o esforço excessivo para evacuar quando se está constipado aumenta a pressão nas veias do reto e ânus, o que pode causar ou agravar hemorroidas. Portanto, manter as fezes macias por meio do consumo de fibras e hidratação adequada é uma das melhores formas de prevenir hemorroidas.
A prisão de ventre, embora comum, não deve ser ignorada ou considerada normal. Com as estratégias adequadas de alimentação, hidratação, exercício físico e hábitos intestinais saudáveis, é possível melhorar significativamente o funcionamento do intestino e prevenir os desconfortos associados à constipação. Em casos persistentes, não hesite em buscar orientação médica para um diagnóstico preciso e tratamento adequado.