O hipotireoidismo é uma condição médica caracterizada pela produção insuficiente dos hormônios tireoidianos T3 (triiodotironina) e T4 (tiroxina) pela glândula tireoide, o que compromete diversas funções do organismo. Consequentemente, esta disfunção afeta significativamente o metabolismo corporal e pode comprometer diversas funções orgânicas essenciais.Estima-se que o hipotireoidismo afete cerca de 10% da população mundial, sendo mais comum em mulheres acima dos 60 anos, embora possa ocorrer em qualquer idade.
Quando a tireoide não produz hormônios em quantidade adequada, o organismo sofre uma desaceleração metabólica que, por conseguinte, resulta em uma série de manifestações clínicas características. Portanto, o reconhecimento precoce dos sintomas e o diagnóstico adequado são fundamentais para o início do tratamento e prevenção de complicações mais graves associadas ao hipotireoidismo não tratado.
O que é hipotireoidismo e como afeta o organismo
O hipotireoidismo ocorre quando a glândula tireoide, localizada na parte anterior do pescoço, não consegue produzir quantidades suficientes dos hormônios T3 e T4. Esses hormônios são, portanto, essenciais para regular o metabolismo, influenciando praticamente todos os órgãos do corpo humano.
A tireoide funciona como um ‘termostato metabólico’, controlando a velocidade com que o corpo converte nutrientes em energia. Portanto, quando há deficiência desses hormônios, ocorre uma desaceleração generalizada das funções corporais, resultando em manifestações clínicas que afetam múltiplos sistemas orgânicos.
Como o hipotireoidismo impacta sua saúde diária
O impacto do hipotireoidismo na rotina diária pode ser significativo. De fato, muitas pessoas descrevem uma sensação constante de ‘estar funcionando em câmera lenta’, enfrentando dificuldades para realizar atividades que antes eram simples. A fadiga crônica e a lentidão mental podem afetar o desempenho profissional e a qualidade de vida, enquanto alterações no peso e na aparência física podem impactar a autoestima.
Sintomas de hipotireoidismo: Como reconhecer os sinais
Os sintomas do hipotireoidismo geralmente se desenvolvem de forma gradual, ao longo de meses ou anos, o que pode dificultar seu reconhecimento. A manifestação clínica varia conforme a gravidade da deficiência hormonal e a idade do paciente.
Principais sinais e sintomas do hipotireoidismo
- Fadiga e fraqueza persistentes: cansaço excessivo, mesmo após descanso adequado.
- Alterações na pele e anexos:
- Pele ressecada, áspera e pálida
- Cabelos finos, quebradiços e com queda acentuada
- Unhas frágeis e quebradiças
- Sensibilidade ao frio: intolerância a baixas temperaturas quando outros não sentem frio
- Ganho de peso inexplicável: aumento de peso, mesmo sem mudanças na dieta ou na atividade física.
- Alterações cognitivas:
- Dificuldade de concentração
- Problemas de memória
- Raciocínio mais lento
- Alterações emocionais: tendência à depressão e irritabilidade
- Dores musculares e articulares: desconforto físico sem causa aparente
- Alterações cardiovasculares: frequência cardíaca reduzida (bradicardia)
- Alterações digestivas: constipação intestinal persistente
- Alterações menstruais: fluxo menstrual intenso ou irregular
- Edema facial: inchaço característico nas pálpebras e face
- Rouquidão: alteração na voz devido ao edema das cordas vocais
- Diminuição da libido: redução do desejo sexual
Em casos graves, especialmente quando não tratados, podem surgir sintomas mais severos como confusão mental, hipotermia (temperatura corporal baixa) e até mesmo coma mixedematoso, uma emergência médica potencialmente fatal.
Sinais de alerta: Quando procurar um médico
Você deve consultar um endocrinologista se apresentar vários dos sintomas listados acima, especialmente quando:
- Os sintomas persistirem por mais de duas semanas
- Houver histórico familiar de doenças tireoidianas
- Tiver sido submetido a tratamentos prévios para problemas na tireoide
- For mulher acima de 50 anos
- Estiver grávida ou planejando engravidar
Causas do hipotireoidismo: Entendendo os fatores de risco
O hipotireoidismo pode ter diversas causas, sendo as mais comuns:
1. Tireoidite autoimune (Tireoidite de Hashimoto)
A causa mais frequente de hipotireoidismo nos países desenvolvidos é, portanto, a Tireoidite de Hashimoto, uma doença autoimune na qual o sistema imunológico produz anticorpos que atacam e danificam progressivamente a glândula tireoide. Além disso, esta condição tem componente genético e é mais comum em mulheres.
2. Deficiência de iodo
O iodo é um mineral essencial para a produção dos hormônios tireoidianos. Em regiões onde há deficiência de iodo na dieta, o hipotireoidismo pode ser endêmico. Entretanto, no Brasil, com a adição de iodo ao sal de cozinha, esta causa tornou-se menos comum.
3. Tratamentos médicos prévios
Procedimentos como:
- Cirurgia da tireoide (tireoidectomia parcial ou total)
- Tratamento com iodo radioativo para hipertireoidismo
- Radioterapia na região da cabeça e pescoço
4. Medicamentos
Alguns medicamentos podem induzir ou agravar o hipotireoidismo:
- Amiodarona (antiarrítmico)
- Lítio (usado em transtorno bipolar)
- Interferon alfa
- Alguns quimioterápicos
5. Hipotireoidismo congênito
Ocorre quando a criança nasce com a tireoide ausente ou com funcionamento inadequado. Portanto, é uma condição grave que requer diagnóstico e tratamento precoces para evitar comprometimento do desenvolvimento neurológico.
6. Disfunções hipofisárias ou hipotalâmicas
Alterações na hipófise (hipotireoidismo secundário) ou no hipotálamo (hipotireoidismo terciário) podem afetar a produção do TSH (hormônio estimulante da tireoide) ou do TRH (hormônio liberador de tireotrofina), respectivamente.
Fatores de risco para desenvolver hipotireoidismo
Certos fatores aumentam a probabilidade de desenvolver hipotireoidismo:
- Sexo feminino: mulheres têm 5 a 8 vezes mais chances de desenvolver a condição
- Idade avançada: o risco aumenta significativamente após os 60 anos
- Histórico familiar de doenças tireoidianas ou outras doenças autoimunes
- Doenças autoimunes coexistentes como diabetes tipo 1, doença celíaca, vitiligo
- Gravidez recente ou pós-parto (tireoidite pós-parto)
- Exposição à radiação na região do pescoço
Tipos de hipotireoidismo: Classificação e características
O hipotireoidismo pode ser classificado de acordo com sua origem e manifestação clínica:
Hipotireoidismo primário
Representa cerca de 95% dos casos e ocorre quando o problema está na própria glândula tireoide, que, portanto, não consegue produzir hormônios em quantidade adequada. Caracteriza-se laboratorialmente por níveis elevados de TSH e baixos de T4 livre. Além disso, a Tireoidite de Hashimoto é a causa mais comum.
Hipotireoidismo central (secundário e terciário)
- Secundário: Isso resulta de disfunção na hipófise, com produção insuficiente de TSH.
- Terciário: causado por alterações no hipotálamo, com deficiência na produção de TRH
Ambos se caracterizam por níveis baixos ou inapropriadamente normais de TSH e baixos de T4 livre. Além disso, são mais raros, representando menos de 5% dos casos.
Hipotireoidismo subclínico
Condição caracterizada por níveis elevados de TSH com níveis normais de T4 livre. Dessa forma, os pacientes podem não apresentar sintomas evidentes ou ter manifestações leves. Além disso, esta forma representa um estágio inicial de disfunção tireoidiana e pode evoluir para hipotireoidismo clínico a uma taxa de 2-5% ao ano.
Hipotireoidismo congênito
Presente ao nascimento, pode ser permanente ou transitório. Por isso, o diagnóstico precoce é fundamental e faz parte da triagem neonatal obrigatória (‘teste do pezinho’) no Brasil. Além disso, o tratamento imediato previne sequelas neurológicas graves.
Hipotireoidismo na gravidez
Requer atenção especial devido aos riscos para a mãe e o desenvolvimento fetal. Essa condição pode ser pré-existente ou desenvolver-se durante a gestação. Portanto, o monitoramento dos níveis hormonais e os ajustes na medicação são essenciais durante todo o período gestacional.
Diagnóstico do hipotireoidismo: Exames e avaliação médica

O diagnóstico do hipotireoidismo envolve a avaliação clínica detalhada e a realização de exames laboratoriais específicos.
Avaliação clínica
O endocrinologista realizará:
- Anamnese completa (histórico médico)
- Investigação dos sintomas apresentados
- Histórico familiar de doenças tireoidianas
- Exame físico com palpação da tireoide
Exames laboratoriais para hipotireoidismo
Exames hormonais
- TSH (Hormônio Estimulante da Tireoide): É o teste mais sensível e, por isso, o primeiro a ser solicitado. No hipotireoidismo primário, seus níveis estão tipicamente elevados.
- T4 livre: representa a forma ativa do hormônio circulante. No hipotireoidismo, seus níveis estão reduzidos.
- T3 total ou livre: pode ser solicitado para complementar a avaliação, embora seja menos sensível para o diagnóstico de hipotireoidismo.
Anticorpos tireoidianos
- Anti-TPO (Anti-tireoperoxidase): positivo em mais de 90% dos casos de Tireoidite de Hashimoto
- Anti-Tireoglobulina: pode estar elevado na tireoidite autoimune
Exames de imagem
- Ultrassonografia da tireoide: avalia o tamanho, textura e presença de nódulos na glândula
- Cintilografia da tireoide: menos utilizada para hipotireoidismo, mais indicada em casos específicos
Diagnóstico diferencial
É importante diferenciar o hipotireoidismo de outras condições que podem apresentar sintomas semelhantes, como:
- Síndrome da fadiga crônica
- Fibromialgia
- Depressão
- Anemia
- Insuficiência adrenal
Tratamento para hipotireoidismo: Opções e recomendações

O tratamento do hipotireoidismo, portanto, visa normalizar os níveis hormonais e reverter os sintomas associados à deficiência hormonal.
Terapia de reposição hormonal
Levotiroxina (T4 sintético)
A levotiroxina sódica é, portanto, o tratamento de escolha para o hipotireoidismo. Este medicamento:
- Esse tratamento repõe o hormônio T4, que, por sua vez, é convertido em T3 nos tecidos periféricos, contribuindo para o equilíbrio hormonal.
- Tem absorção variável (40-80%), influenciada por diversos fatores
- O medicamento deve ser tomado em jejum, preferencialmente 30 a 60 minutos antes do café da manhã, a fim de garantir sua absorção adequada.
- Requer ajustes de dose baseados nos níveis de TSH e na resposta clínica
- Geralmente é um tratamento para toda a vida
Orientações para o uso correto da levotiroxina
Para garantir a eficácia do tratamento:
- Tome o medicamento sempre no mesmo horário
- Evite consumir alimentos, café ou outros medicamentos por pelo menos 30 minutos após a ingestão
- Além disso, alguns medicamentos e suplementos podem interferir na absorção da levotiroxina:
- Cálcio e suplementos de ferro
- Antiácidos contendo alumínio
- Sequestradores de ácidos biliares
- Sucralfato
- Informe seu médico sobre todos os medicamentos que você utiliza
Monitoramento do tratamento
- Avaliação laboratorial periódica (TSH e T4 livre)
- Ajustes de dose quando necessário
- Primeira avaliação geralmente após 6-8 semanas do início do tratamento
- Após estabilização, controle a cada 6-12 meses
Casos especiais no tratamento do hipotireoidismo
Idosos
- Início com doses mais baixas
- Aumento gradual para evitar sobrecarga cardíaca
- Monitoramento mais frequente
Gestantes
- Necessidade de ajuste da dose durante a gravidez (aumento de 30-50%)
- Monitoramento a cada 4-6 semanas durante a gestação
- Objetivo de manter TSH dentro de valores específicos para cada trimestre
Hipotireoidismo subclínico
- Tratamento controverso
- Geralmente recomendado quando:
- TSH > 10 mUI/L
- Presença de sintomas
- Anticorpos anti-TPO positivos
- Fatores de risco cardiovascular
Alimentação e estilo de vida para quem tem hipotireoidismo
Embora a dieta não substitua o tratamento medicamentoso, certos hábitos alimentares e mudanças no estilo de vida podem contribuir para o bem-estar geral do paciente com hipotireoidismo.
Recomendações nutricionais
Alimentos ricos em iodo
O iodo é essencial para a produção dos hormônios tireoidianos. Por isso, boas fontes incluem:
- Sal iodado
- Frutos do mar
- Algas marinhas
- Laticínios
Selênio
Este mineral é importante para a conversão de T4 em T3. Encontra-se em:
- Castanha-do-pará (apenas 1-2 unidades por dia são suficientes)
- Carnes
- Ovos
- Cereais integrais
Zinco
Contribui para a função tireoidiana adequada. Presente em:
- Carnes vermelhas
- Frutos do mar
- Sementes de abóbora
- Castanhas
Alimentos a serem consumidos com moderação
Alguns alimentos contêm compostos chamados goitrogênicos que, portanto, quando consumidos em grandes quantidades, podem interferir na função tireoidiana:
- Crucíferas cruas (brócolis, couve-flor, repolho)
- Soja e derivados
- Amendoim
- Milho
O cozimento, portanto, reduz significativamente o efeito goitrogênico desses alimentos, tornando-os mais seguros para consumo moderado.
Atividade física
A prática regular de exercícios físicos, portanto, traz benefícios importantes para pessoas com hipotireoidismo:
- Ajuda no controle do peso
- Melhora a disposição e combate a fadiga
- Reduz o risco de doenças cardiovasculares
- Melhora o humor e reduz sintomas de depressão
Recomenda-se iniciar com atividades de baixa intensidade e aumentar gradualmente conforme a tolerância individual.
Gerenciamento do estresse
O estresse crônico pode agravar sintomas do hipotireoidismo. Técnicas úteis incluem:
- Meditação e mindfulness
- Yoga
- Respiração profunda
- Terapias comportamentais
Complicações do hipotireoidismo não tratado
O hipotireoidismo não diagnosticado ou inadequadamente tratado pode, portanto, levar a várias complicações:
Complicações cardiovasculares
- Aumento do colesterol LDL
- Hipertensão arterial
- Aterosclerose acelerada
- Insuficiência cardíaca
Complicação neuropsiquiátrica
- Depressão resistente ao tratamento
- Declínio cognitivo
- Neuropatia periférica
Complicações reprodutivas
- Infertilidade
- Irregularidades menstruais
- Complicações na gravidez (aborto espontâneo, pré-eclâmpsia, parto prematuro)
Coma mixedematoso
É a complicação mais grave do hipotireoidismo não tratado. Caracteriza-se por:
- Hipotermia severa
- Bradicardia
- Hipoventilação
- Hipotensão
- Alteração do nível de consciência
Representa uma emergência médica com alta mortalidade, exigindo tratamento hospitalar imediato.
Perguntas frequentes sobre hipotireoidismo
O hipotireoidismo tem cura?
O hipotireoidismo geralmente não tem cura definitiva, especialmente quando causado por doenças autoimunes como a Tireoidite de Hashimoto. No entanto, com o tratamento adequado, é possível controlar completamente a condição e levar uma vida normal. Em alguns casos específicos, como hipotireoidismo induzido por medicamentos ou pós-parto, a condição pode ser temporária.
Como o hipotireoidismo afeta a fertilidade?
O hipotireoidismo não tratado pode interferir na ovulação, causando ciclos menstruais irregulares e dificultando a concepção. Além disso, em homens, pode reduzir a qualidade do esperma e a libido. No entanto, o controle adequado da função tireoidiana normalmente restaura a fertilidade. Por isso, mulheres com hipotireoidismo que desejam engravidar devem consultar o endocrinologista para otimizar o tratamento antes da concepção.
Posso tomar levotiroxina junto com outros medicamentos?
A levotiroxina pode interagir com diversos medicamentos, reduzindo sua absorção ou eficácia. Portanto, idealmente, deve ser tomada em jejum, pelo menos 30 a 60 minutos antes de outros medicamentos. Consulte seu médico sobre possíveis interações, especialmente se utiliza antiácidos, suplementos de cálcio ou ferro, anticonvulsivantes ou contraceptivos orais.
O hipotireoidismo causa ganho de peso? Como controlá-lo?
O hipotireoidismo reduz o metabolismo basal, facilitando o ganho de peso e dificultando sua perda. Com o tratamento adequado, o metabolismo tende a normalizar, mas alguns pacientes continuam com dificuldade para perder peso. Estratégias úteis incluem: dieta equilibrada com controle calórico, atividade física regular, consumo adequado de proteínas e redução de carboidratos refinados.
Quais são os sinais de que a dose de levotiroxina precisa ser ajustada?
Sinais de dose insuficiente incluem a persistência dos sintomas de hipotireoidismo (cansaço, ganho de peso, constipação, pele seca) e TSH elevado nos exames. Por outro lado, sinais de dose excessiva podem incluir palpitações, insônia, nervosismo, perda de peso inexplicável e TSH suprimido. Portanto, qualquer destes sinais deve ser reportado ao médico para avaliação e possível ajuste da medicação.
O hipotireoidismo pode afetar a saúde mental?
Sim, o hipotireoidismo pode causar ou agravar quadros de depressão, ansiedade, irritabilidade e déficits cognitivos. Em alguns casos, pacientes são inicialmente diagnosticados com transtornos psiquiátricos antes que o hipotireoidismo seja identificado. A normalização dos níveis hormonais geralmente melhora significativamente os sintomas psiquiátricos, embora alguns pacientes possam necessitar de tratamento específico para questões de saúde mental.
Conclusão: Vivendo bem com hipotireoidismo
O hipotireoidismo é uma condição crônica que, quando adequadamente diagnosticada e tratada, permite, portanto, uma vida plena e saudável. Além disso, o elemento-chave para o sucesso do tratamento é a adesão à terapia medicamentosa e o acompanhamento médico regular.
A combinação de tratamento medicamentoso adequado, hábitos alimentares saudáveis, prática regular de atividade física e gerenciamento do estresse contribui, portanto, significativamente para o controle dos sintomas e prevenção de complicações associadas ao hipotireoidismo.
É importante lembrar que cada pessoa responde de maneira única ao tratamento; por isso, podem ser necessários ajustes personalizados ao longo do tempo. Portanto, mantenha uma comunicação aberta com seu endocrinologista, relatando mudanças nos sintomas ou efeitos colaterais da medicação.
Com o conhecimento adequado sobre sua condição e participação ativa no tratamento, é possível controlar efetivamente o hipotireoidismo e manter uma excelente qualidade de vida.