Gastrite: Sintomas, causas e como tratar

Gastrite: Sintomas, causas e como tratar

A gastrite é uma condição caracterizada pela inflamação da mucosa do estômago que afeta milhões de brasileiros anualmente. Essa inflamação pode variar de leve a severa e manifestar-se de forma aguda ou crônica, impactando, portanto, significativamente a qualidade de vida dos pacientes. Assim, neste artigo completo, abordaremos tudo o que você precisa saber sobre a gastrite: seus sintomas, causas, diagnóstico, tratamentos eficazes e dicas de prevenção.

O que é gastrite e como ela afeta o organismo

A gastrite ocorre quando o revestimento protetor do estômago, conhecido como mucosa gástrica, sofre inflamação. Essa camada protetora tem a função crucial de proteger o órgão contra a ação corrosiva dos ácidos gástricos, que são essenciais para a digestão dos alimentos. No entanto, quando essa proteção é comprometida, o ácido estomacal pode irritar o tecido da parede do estômago, resultando em inflamação.

A condição pode se desenvolver gradualmente, caracterizando a gastrite crônica, ou aparecer repentinamente, no caso da gastrite aguda. Além disso, em alguns casos, a gastrite pode levar a úlceras e aumentar o risco de câncer de estômago, especialmente quando não tratada adequadamente.

Principais sintomas da gastrite: Como identificar

Os sintomas da gastrite podem variar consideravelmente entre os pacientes, sendo que algumas pessoas podem até mesmo não apresentar sintomas perceptíveis. No entanto, os sinais mais comuns incluem:

  • Dor abdominal: geralmente descrita como uma pontada ou queimação na região do estômago
  • Desconforto na parte superior do abdômen
  • Sensação de estômago cheio mesmo após pequenas refeições
  • Náuseas e vômitos persistentes
  • Sensação de queimação ou ardência estomacal
  • Arrotos frequentes e excesso de gases
  • Inchaço abdominal e distensão
  • Perda de apetite
  • Sensação de plenitude gástrica
  • Fezes escurecidas (em casos de sangramento estomacal)

É importante ressaltar que a presença desses sintomas, especialmente quando persistentes por mais de uma semana, exige, portanto, avaliação médica. Além disso, a automedicação pode mascarar sintomas importantes e retardar o diagnóstico correto, potencialmente agravando a condição.

Causas da gastrite: Fatores de risco e desencadeantes

A gastrite pode ser desencadeada por diversos fatores. Conhecer as causas mais comuns é essencial para um tratamento adequado e prevenção eficaz:

1. Infecção por Helicobacter pylori

A bactéria H. pylori é responsável por aproximadamente 60% dos casos de gastrite crônica no Brasil. Esta bactéria tem a capacidade de penetrar na camada protetora do estômago, causando inflamação e, em alguns casos, úlceras. A infecção por H. pylori é particularmente preocupante porque está associada a um risco aumentado de câncer gástrico quando não tratada.

2. Uso prolongado de anti-inflamatórios

O uso frequente ou prolongado de medicamentos anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), como ibuprofeno, aspirina e naproxeno, pode irritar o revestimento do estômago. Isso acontece porque esses medicamentos reduzem a produção de prostaglandinas, substâncias que ajudam a proteger a mucosa gástrica.

3. Consumo excessivo de álcool

O álcool é um irritante direto da mucosa gástrica e pode causar erosões agudas. Além disso, o consumo crônico ou excessivo aumenta significativamente o risco de desenvolver gastrite, além de potencializar os efeitos nocivos de outros fatores de risco.

4. Estresse e fatores emocionais

O estresse crônico e a ansiedade podem desencadear ou agravar a gastrite, condição conhecida popularmente como “gastrite nervosa”. Isso porque o estresse aumenta a produção de ácido gástrico e altera os padrões de motilidade do estômago, criando, assim, condições favoráveis para a inflamação.

5. Outros fatores de risco

  • Tabagismo: o fumo prejudica os mecanismos de defesa da mucosa gástrica
  • Idade avançada: o envelhecimento natural da mucosa estomacal a torna mais vulnerável
  • Doenças autoimunes: como anemia perniciosa, onde o sistema imunológico ataca as células do estômago
  • Refluxo biliar: quando a bile retorna ao estômago
  • Infecções virais ou bacterianas: além do H. pylori, outras infecções podem causar gastrite
  • Consumo frequente de alimentos irritantes: como os muito condimentados ou ácidos

Tipos de gastrite: Classificação e características

A gastrite pode ser classificada de diferentes formas, dependendo de sua duração, causa e características específicas. Portanto, conhecer os diferentes tipos ajuda a compreender melhor o tratamento mais adequado:

Gastrite aguda

Caracteriza-se pelo surgimento súbito de sintomas intensos, geralmente após exposição a um fator irritante potente. Os sintomas podem incluir dor abdominal severa, náuseas e vômitos. Este tipo geralmente dura poucos dias e pode ser causado por:

  • Intoxicação alimentar
  • Consumo excessivo de álcool em curto período
  • Uso de doses altas de anti-inflamatórios
  • Estresse físico extremo (como cirurgias ou traumas)

Gastrite crônica

É a inflamação persistente da mucosa gástrica que dura mais de três meses. Muitas vezes é assintomática ou apresenta sintomas leves e intermitentes. Pode ser classificada em:

  • Tipo A (autoimune): menos comum, afeta principalmente o corpo do estômago
  • Tipo B (associada ao H. pylori): mais comum, afeta principalmente o antro do estômago
  • Tipo C (química/reativa): causada por irritantes químicos como bile, álcool ou medicamentos

Gastrite erosiva

Neste tipo, além da inflamação, ocorrem erosões (pequenas feridas) na mucosa do estômago. Essas erosões podem sangrar, causando sintomas como fezes escurecidas ou vômitos com sangue. Por isso, é frequentemente causada por:

  • Uso prolongado de AINEs
  • Consumo excessivo de álcool
  • Estresse físico extremo

Gastrite enantematosa

Caracterizada por áreas avermelhadas na mucosa gástrica sem a presença de erosões. Este tipo é geralmente diagnosticado durante endoscopia e pode estar relacionado a:

  • Infecção por H. pylori
  • Doenças autoimunes
  • Consumo de álcool
  • Uso de medicamentos irritantes

Gastrite nervosa

Embora tecnicamente não seja um tipo distinto de gastrite do ponto de vista histológico, a “gastrite nervosa” é um termo comumente usado para descrever os sintomas gástricos desencadeados ou agravados por fatores emocionais como ansiedade e estresse. Nestes casos, o estresse altera a motilidade e a secreção ácida do estômago, podendo causar sintomas como:

  • Sensação de “bolo” na garganta
  • Azia e queimação recorrentes
  • Estômago estufado após refeições
  • Náuseas relacionadas a situações estressantes

Diagnóstico da gastrite: Como é confirmado

O diagnóstico preciso da gastrite é essencial para um tratamento eficaz. O gastroenterologista utiliza diferentes métodos para confirmar a condição:

Avaliação clínica

O médico realizará uma entrevista detalhada sobre os sintomas, histórico médico, uso de medicamentos, hábitos alimentares e estilo de vida. Essa avaliação inicial, portanto, é fundamental para direcionar os exames complementares.

Endoscopia digestiva alta

Este é o exame padrão-ouro para o diagnóstico da gastrite. Durante o procedimento, um tubo fino com câmera (endoscópio) é inserido pela boca até o estômago, permitindo, assim, a visualização direta da mucosa gástrica. Dessa forma, o médico pode identificar:

  • Áreas de inflamação
  • Erosões ou úlceras
  • Alterações na coloração da mucosa
  • Sangramento ativo ou recente

Biópsia gástrica

Durante a endoscopia, pequenas amostras de tecido do estômago são coletadas para análise microscópica. A biópsia permite:

  • Confirmar o diagnóstico de gastrite
  • Identificar o tipo específico
  • Detectar a presença da bactéria H. pylori
  • Descartar condições mais graves como câncer gástrico

Teste de urease

Realizado durante a endoscopia, este teste rápido detecta a presença da bactéria H. pylori por meio de uma reação química. Para isso, uma pequena amostra de tecido é colocada em um meio contendo ureia e, caso ocorra mudança de cor, isso indica a presença da bactéria.

Exames complementares

Dependendo do caso, o médico pode solicitar:

  • Exames de sangue: para verificar anemia (que pode indicar sangramento) ou marcadores de inflamação
  • Teste respiratório para H. pylori: método não invasivo para detectar a bactéria
  • Exame de fezes: para detectar sangue oculto ou antígenos de H. pylori

Tratamento eficaz para gastrite: Abordagem completa

O tratamento da gastrite deve ser personalizado de acordo com a causa subjacente e a gravidade dos sintomas. Uma abordagem multifacetada geralmente proporciona os melhores resultados:

1. Tratamento medicamentoso

Inibidores da bomba de prótons (IBPs)

Medicamentos como omeprazol, pantoprazol e esomeprazol reduzem drasticamente a produção de ácido estomacal, permitindo que a mucosa se recupere. São geralmente prescritos por 4 a 8 semanas, dependendo da gravidade da gastrite.

Antagonistas dos receptores H2

Medicamentos como ranitidina e famotidina também reduzem a secreção ácida, embora sejam menos potentes que os IBPs. Podem ser utilizados em casos mais leves ou como terapia de manutenção.

Antiácidos

Produtos contendo hidróxido de alumínio, hidróxido de magnésio ou carbonato de cálcio neutralizam o ácido já presente no estômago, proporcionando alívio rápido, porém temporário, dos sintomas.

Antibióticos para H. pylori

Quando a infecção por H. pylori é confirmada, o tratamento geralmente envolve uma combinação de dois antibióticos (como amoxicilina, claritromicina ou metronidazol) mais um IBP, conhecida como “terapia tripla”. Em alguns casos, pode ser necessária a “terapia quádrupla” com a adição de bismuto.

Protetores da mucosa

Medicamentos como sucralfato formam uma barreira protetora sobre a mucosa inflamada, protegendo-a contra a ação do ácido e permitindo sua cicatrização.

2. Mudanças na dieta para gastrite

Uma alimentação adequada é fundamental para o controle da gastrite. Recomenda-se:

Alimentos recomendados

  • Verduras e legumes cozidos e sem casca
  • Frutas não ácidas como banana, maçã sem casca e pera
  • Carnes magras grelhadas ou cozidas
  • Cereais integrais como aveia e arroz integral
  • Leite e derivados com baixo teor de gordura
  • Chás de ervas como camomila, erva-doce e espinheira-santa
  • Água em abundância (pelo menos 2 litros por dia)

Alimentos a serem evitados

  • Alimentos picantes e condimentados
  • Frituras e alimentos gordurosos
  • Café, chá preto e mate
  • Refrigerantes e bebidas gaseificadas
  • Bebidas alcoólicas de qualquer tipo
  • Alimentos ácidos como tomate, laranja e limão
  • Chocolate e produtos com alto teor de açúcar
  • Alimentos processados e ultraprocessados

3. Remédios caseiros para gastrite

Alguns remédios naturais podem complementar o tratamento médico convencional:

  • Chá de espinheira-santa: possui propriedades anti-inflamatórias e protetoras da mucosa gástrica
  • Suco de batata crua: contém compostos que podem neutralizar o excesso de acidez
  • Chá de camomila: tem efeito calmante e anti-inflamatório
  • Gel de aloe vera: quando consumido adequadamente, pode acalmar a inflamação do estômago
  • Suco de couve com maçã: rico em compostos que protegem a mucosa gástrica

Importante: Estes remédios caseiros devem ser utilizados como complemento ao tratamento médico, nunca como substitutos.

4. Controle do estresse

Para casos de gastrite relacionada ao estresse, técnicas de gerenciamento emocional são essenciais:

  • Prática regular de meditação ou mindfulness
  • Exercícios de respiração profunda
  • Atividade física moderada regular
  • Terapia cognitivo-comportamental
  • Técnicas de relaxamento como yoga ou tai chi

Gastrite tem cura? Prognóstico e expectativas

A gastrite tem cura na maioria dos casos, especialmente quando identificada precocemente e tratada de forma adequada. O prognóstico varia conforme o tipo e a causa:

  • Gastrite aguda: geralmente apresenta resolução completa em poucos dias após a remoção do agente causador e tratamento adequado.
  • Gastrite por H. pylori: Além disso, a erradicação da bactéria com antibióticos específicos proporciona cura em aproximadamente 80-90% dos casos. No entanto, em alguns pacientes, pode ser necessário mais de um ciclo de tratamento.
  • Gastrite crônica: Assim, o controle dos sintomas e a prevenção de complicações são os principais objetivos. Além disso, em alguns casos, especialmente na gastrite autoimune, pode ser necessário tratamento contínuo.
  • Gastrite erosiva: com o tratamento adequado, as erosões cicatrizam em algumas semanas, mas podem recorrer se os fatores causais não forem controlados.

É fundamental, portanto, seguir todas as orientações médicas e manter as consultas de acompanhamento, mesmo após o desaparecimento dos sintomas, para garantir a completa recuperação da mucosa gástrica.

Complicações da gastrite não tratada

Quando não tratada adequadamente, a gastrite pode evoluir para complicações sérias:

Úlceras gástricas

A inflamação persistente pode, com o tempo, progredir, formando feridas mais profundas na parede do estômago. Como resultado, estas úlceras podem sangrar, causando anemia, ou até perfurar a parede estomacal, resultando em uma emergência médica.

Anemia por deficiência de vitamina B12

Especialmente na gastrite autoimune, onde ocorre destruição das células que produzem o fator intrínseco, essencial para a absorção da vitamina B12.

Metaplasia intestinal

Condição em que as células normais do estômago são substituídas por células intestinais, representando um estágio precursor para o desenvolvimento de câncer gástrico.

Câncer gástrico

A gastrite crônica, principalmente quando associada à infecção por H. pylori de longa duração, aumenta significativamente o risco de desenvolvimento de câncer de estômago.

Sangramento digestivo

A inflamação persistente pode levar ao rompimento de vasos sanguíneos da mucosa gástrica, resultando em sangramento que pode ser lento e crônico ou agudo e abundante.

Prevenção da gastrite: Hábitos protetores

Adotar hábitos saudáveis é a melhor forma de prevenir a gastrite:

Alimentação adequada

  • Fazer refeições em horários regulares, evitando longos períodos de jejum
  • Mastigar bem os alimentos para facilitar a digestão
  • Evitar alimentos reconhecidamente irritantes para o estômago
  • Preferir refeições menores e mais frequentes

Moderação no consumo de substâncias irritantes

  • Limitar ou evitar o consumo de bebidas alcoólicas
  • Reduzir a ingestão de café e outras bebidas com cafeína
  • Evitar o tabagismo, que prejudica a proteção da mucosa gástrica

Uso consciente de medicamentos

  • Evitar a automedicação com anti-inflamatórios
  • Quando necessário o uso de AINEs, sempre ingerir após as refeições
  • Seguir rigorosamente a posologia prescrita pelo médico

Higiene e prevenção de infecções

  • Lavar bem as mãos antes das refeições e após usar o banheiro
  • Consumir apenas água tratada e alimentos bem higienizados
  • Evitar compartilhar talheres e copos

Controle do estresse

  • Praticar atividades relaxantes regularmente
  • Buscar equilíbrio entre trabalho e lazer
  • Dormir adequadamente (7-8 horas por noite)
  • Praticar exercícios físicos moderados regularmente

Perguntas frequentes sobre gastrite

Quanto tempo dura o tratamento da gastrite?

O tratamento da gastrite geralmente dura de 4 a 8 semanas para casos agudos. Para gastrite crônica ou associada ao H. pylori, pode se estender por mais tempo, sendo necessário acompanhamento médico regular para avaliar a resposta ao tratamento.

Gastrite pode virar câncer de estômago?

A gastrite em si não se transforma em câncer, mas a gastrite crônica, especialmente quando causada pela bactéria H. pylori e não tratada por anos, aumenta significativamente o risco de desenvolvimento de câncer gástrico. Por isso, o diagnóstico precoce e tratamento adequado são fundamentais.

Quais alimentos são proibidos para quem tem gastrite?

Pessoas com gastrite devem evitar alimentos picantes, frituras, café, refrigerantes, bebidas alcoólicas, alimentos muito ácidos como tomate e cítricos, chocolate e alimentos processados ricos em conservantes. Além disso, a tolerância individual pode variar, sendo, portanto, importante observar quais alimentos desencadeiam os sintomas.

Como diferenciar gastrite de úlcera?

Embora os sintomas possam ser semelhantes, a úlcera geralmente causa dor mais localizada e intensa, que pode melhorar temporariamente com a alimentação. A gastrite tende a causar desconforto mais difuso e contínuo. Apenas a endoscopia pode confirmar com precisão o diagnóstico diferencial.

Estresse pode causar gastrite?

Sim, o estresse crônico pode desencadear ou agravar a gastrite. Isso porque o estresse aumenta a produção de ácido gástrico e altera a motilidade do estômago, além de reduzir a eficácia dos mecanismos de proteção da mucosa gástrica. Por essa razão, esta condição é frequentemente chamada de “gastrite nervosa”.

Posso tomar probióticos para tratar gastrite?

Os probióticos podem ser benéficos como tratamento complementar para a gastrite, especialmente nos casos associados ao H. pylori, pois ajudam a restaurar o equilíbrio da microbiota intestinal. No entanto, devem ser utilizados como complemento, não como substituto do tratamento médico convencional.

Conclusão: Controlando a gastrite e recuperando a qualidade de vida

A gastrite é uma condição inflamatória do estômago que, embora comum, não deve ser negligenciada. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são fundamentais para evitar complicações e garantir a recuperação completa da mucosa gástrica.

Ao combinar o tratamento medicamentoso prescrito pelo médico com mudanças positivas no estilo de vida, como alimentação adequada, controle do estresse e eliminação de hábitos nocivos, a maioria dos pacientes, assim, consegue controlar efetivamente a gastrite e recuperar sua qualidade de vida.

Lembre-se de que cada caso de gastrite é único e requer uma abordagem personalizada. Por isso, diante de sintomas persistentes de desconforto estomacal, é essencial buscar orientação médica especializada para um diagnóstico preciso e um plano de tratamento adequado às suas necessidades específicas.

Artigo Anterior

Gripe: Sintomas, tratamentos e quando procurar ajuda médica

Próximo Artigo

Dor nas costas: Analgésicos e exercícios para aliviar a lombar

Escrever um Comentário

Deixar um Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *